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quarta-feira, 11 de maio de 2011
reconstrução da idade média...
"Nos últimos dias beatificamos um papa, casamos um príncipe, fizemos uma cruzada e matamos um mouro. Bem vindo à Idade Média!!!" (do Cristóvão Feil, no Diario Gauche)
MST no Brasil
O MST no Brasil
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) é um dos mais importantes movimentos sociais do Brasil, tendo como foco as questões do trabalhador do campo, principalmente no tocante à luta pela reforma agrária brasileira. Como se sabe, no Brasil prevaleceu historicamente uma desigualdade do acesso a terra, consequência direta de uma organização social patrimonialista e patriarcalista ao longo de séculos, predominando o grande latifúndio como sinônimo de poder. Desta forma, dada a concentração fundiária, as camadas menos favorecidas como escravos, ex-escravos ou homens livres de classes menos abastadas teriam maiores dificuldades à posse da terra.
Assim, do Brasil colonial da monocultura a este do agronegócio em pleno século XXI, o que prevalece é a concentração fundiária, o que traz à tona a necessidade da discussão e da luta política como a encabeçada pelo MST.
Conforme Bernardo M. Fernandes em seu livro A formação do MST no Brasil (2000), o MST nasceu da ocupação da terra e tem nesta ação seu instrumento de luta contra a concentração fundiária e o próprio Estado. Segundo este autor, pelo fato da não realização da reforma agrária, por meio das ocupações, os sem–terra intensificam a luta, impondo ao governo a realização de uma política de assentamentos rurais.
A organização do MST enquanto movimento social começou nos anos 80 do século passado e hoje já se faz presente em 24 estados da federação, fato que ilustra sua representatividade em termos nacionais. A fundação deste movimento se deu em um contexto político no qual o duro regime militar que se iniciava na década de 60 do século passado chegava ao fim, permitindo à sociedade civil brasileira uma abertura política para reivindicações e debates. Neste contexto de redemocratização do país, em 1985 surgiu a proposta para a elaboração do primeiro PNRA (Plano Nacional da Reforma Agrária). Sua segunda versão (II PNRA) foi proposta apenas em 2003, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os objetivos do MST, para além da reforma agrária, estão no bojo das discussões sobre as transformações sociais importantes ao Brasil, principalmente àquelas no tocante à inclusão social. Se por um lado existiram avanços e conquistas nesta luta, ainda há muito por se fazer em relação à reforma agrária no Brasil, seja em termos de desapropriação e assentamento, seja em relação à qualidade da infraestrutura disponível às famílias já assentadas. Segundo dados do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o número de famílias assentadas nestes últimos anos foi de 614.093, sendo criados neste mesmo período 551 assentamentos. Ainda conforme o INCRA, no total, o Brasil conta com 85,8 milhões de hectares incorporados à reforma agrária e um total de 8.763 assentamentos atendidos, onde vivem 924.263 famílias. Os números apresentados são positivos. Porém, se levarmos em consideração as afirmações do próprio MST e de especialistas no assunto, até 2010 havia ainda cerca de 90 mil famílias acampadas pelo país, o que representa uma demanda por terra considerável por se atender, a despeito dos avanços sugeridos anteriormente. Em relação à infraestrutura disponível a estas famílias, alguns dados apresentados pela Pesquisa de Avaliação da Qualidade dos Assentamentos da Reforma Agrária promovida pelo INCRA em 2010 são muito significativos. A pesquisa mostra que 31,04% dos assentamentos possuem disponibilidade de energia, mas com quedas constantes ou com “pouca força” e 22,39% não possui energia elétrica, o que significa que mais da metade dos domicílios não contam plenamente com este benefício. No tocante ao saneamento básico, os dados também mostram que ainda é necessário avançar, pois apenas 1,14% dos assentamentos contam com rede de esgotos, contra 64,13% (somados fossa simples e fossa “negra”) que possuem fossas. A dimensão negativa destes dados repete-se na avaliação geral de outros fatores como a condição das estradas de acesso e de satisfação geral dos assentados, tornando-se mais significativa quando quase a metade dos assentados não obteve algum financiamento ou empréstimo para alavancar sua produção. Isso mostra que muito ainda deve ser feito em relação aos assentamentos, pois apenas com o acesso a terra não se garante a qualidade de vida e as condições de produção do trabalhador do campo. Se por um lado a luta pela terra além de ser louvável é legítima, por outro, os meios praticados pelo movimento para promover suas invasões em alguns determinados casos geram muita polêmica na opinião pública. Em determinados episódios que repercutiram nacionalmente, o movimento foi acusado de ter pautado pela violência, além de ter permeando suas ações pela esfera da ilegalidade, tanto ao invadir propriedades que, segundo o Estado, eram produtivas, como ao ter alguns de seus militantes envolvidos em depredações, incêndios, roubos e violência contra colonos dessas fazendas.
Contudo, vale ressaltar que em muitos casos a violência e a ação truculenta do Estado ao lidar como uma questão social tão importante como esta também se fazem presentes. Basta lembrarmos o episódio do massacre de Eldorado de Carajás, no Pará, em 1996, quando militantes foram mortos em confronto com a polícia. A data em que ocorreu este fato histórico, 17 de Abril, tornou-se a data do Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. Se a polêmica da violência (seja por parte do movimento, seja do Estado) não bastasse, outras vêm à tona, como a da regularização fundiária pelo país, a qual pode atender a interesses de latifundiários e famílias ligadas ao agronegócio. Dessa forma, a despeito das críticas que recebe (não apenas por seus atos polêmicos em si, mas algumas vezes por desconhecimento da opinião pública influenciada por uma mídia que pode ser tendenciosa), o MST trata-se de um instrumento importante na transformação de uma realidade rural no país: a concentração fundiária.
A reforma agrária está entre tantas outras reformas que a sociedade brasileira tanto almeja para uma agenda de erradicação da miséria e da desigualdade, valorizando a função social da terra. Assegurar os direitos do trabalhador do campo é, ao mesmo tempo, defender sua dignidade enquanto brasileiro.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Watergate
Entenda o escândalo de Watergate
Plantão | Publicada em 19/12/2008 às 16h25m
O caso Watergate é o mais conhecido escândalo político da história americana, e "Garganta Profunda" é a fonte anônima mais famosa do jornalismo.
O que começou com o que parecia ser um mero roubo em junho de 1972 levou à queda do presidente Richard Nixon e também revelou uma trama política de espionagem, sabotagem e suborno.
Algumas pessoas dizem que o caso mudou a cultura política americana para sempre, derrubando o presidente de seu pedestal e tornando a imprensa mais corajosa.
Os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal americano Washington Post, desempenharam um papel-chave na revelação do escândalo, auxiliados por informações cruciais de seu misterioso informante.
Pesadelo político
Watergate é um termo geral usado para designar uma rede complexa de escândalos políticos entre 1972 e 1974.
Mas também se refere especificamente ao edifício Watergate, em Washington DC, que abriga um hotel e vários escritórios.
Foi nesse prédio que cinco homens foram presos no dia 17 de junho de 1972 ao tentar colocar escutas nos escritórios do Comitê Nacional Democrata.
O arrombamento, durante uma campanha eleitoral, foi investigado e levou aos membros de um grupo de apoio a Nixon - o Comitê para Reeleger o Presidente.
Os invasores e dois cúmplices foram condenados em janeiro de 1973, e muitos, inclusive o juiz que os julgou, John Sirica, suspeitaram que havia uma conspiração que alcançava os altos escalões do poder.
O caso acabou se transformando em um escândalo político amplo quando um dos arrombadores condenados escreveu para Sirica alegando ter havido uma grande operação de acobertamento do caso.
Gravações secretas
O Senado americano lançou investigações que engoliram grandes personalidades políticas, inclusive o ex-procurador-geral John Mitchell e os assessores da Casa Branca John Ehrlichman e HR Haldeman.
Em abril de 1974, Nixon cedeu à pressão da opinião pública e liberou transcrições editadas de gravações de conversas que teve sobre Watergate.
Mas o presidente não conseguiu conter a contínua perda de apoio à sua administração, ou uma percepção pública de que ele estava implicado na conspiração.
Em julho daquele ano, a Suprema Corte ordenou que Nixon entregasse as gravações relacionadas ao escândalo.
Enquanto isso, o Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes completou sua investigação e aprovou dispositivos para o impeachment de Nixon.
No dia 5 de agosto, Nixon entregou as transcrições das gravações de três conversas.
Ele admitiu que tomou conhecimento do acobertamento pouco depois do arrombamento no complexo de Watergate e que tinha tentado por fim à investigação do FBI (a polícia federal dos Estados Unidos).
Quatro dias depois, ele se tornou o primeiro presidente dos Estados Unidos a renunciar ao cargo e foi substituído pelo vice-presidente, Gerald Ford.
O presidente Ford deu o perdão oficial a Nixon para evitar um julgamento. Já os seus principais assessores, Haldeman, Ehrlichman e Mitchell, estavam entre os condenados em 1975 por seu papel no escândalo.
'Siga o rastro do dinheiro'
Woodward e Bernstein conseguiram vários furos de reportagem com a ampliação do escândalo. Seu livro sobre o tema, Todos os Homens do Presidente, foi transformado em um filme, estrelado por Dustin Hoffman e Robert Redford.
Entre as cenas memoráveis está o primeiro encontro de Garganta Profunda, que ascende um cigarro na escuridão de uma garagem, com o jornalista Woodward. A recomendação do informante é "siga o rastro do dinheiro".
Com o desenrolar de Watergate, Garganta Profunda ficou temeroso de que seu papel na investigação do Washington Post fosse descoberto, disse Woodward.
Acredita-se que o informante tenha exigido não conversar mais por telefone, temendo que o aparelho estivesse grampeado, e ambos começaram a se encontrar tarde da noite em uma garagem em Washington.
Se Woodward quisesse encontrar Garganta Profunda, o repórter teria que alterar o arranjo de um vaso de plantas na janela de seu apartamento.
Se Garganta Profunda quisesse ver Woodward, teria que garantir, de alguma forma, que a página 20 da cópia do jornal New York Times que Woodward recebia tivesse uma marca.
Durante décadas especulou-se quem seria Garganta Profunda. A especulação acabou em 2005, com um artigo na revista Vanity Fair em que a identidade do informante foi revelada. Tratava-se do segundo em comando do FBI, Mark Felt.
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Nei Lisboa Já cantou...em 2001
DEU NA TV
Autor: Nei Lisboa (2001)
O presidente dos Estados Unidos
Salvou a Terra do choque de um cometa
E eliminou os terroristas malvados
Que ameaçavam dominar o planeta
O presidente não poupou esforços
Arremessando aviões e foguetes
E embora errando uns tantos alvos
Mereceu dos seus os seus aplausos
Eu vi, deu na TV, veja você
Mas é de se perguntar
Onde é que Watergate foi parar?
Eu vi, deu na TV, e quase acreditei
Ahá, hã, hã
Mas quem é que se deu mal no Vietnã?
O presidente dos Estados Unidos
Protege o mundo livre do mundo preso
E prende todo mundo que for preciso
Pra não deixar o presidente indefeso
O presidente é belo e corajoso
E religioso ao falar à nação
Sobre os boatos sem sentido
Do assassinato de um inimigo
O presidente é quase sempre honesto
E nascido na Carolina dos fundos
Onde se fuma e não se traga
E não se sabe o que é que estraga o mundo
Eu vi, deu na TV, veja você
Mas é de se perguntar
Onde é que Watergate foi parar?
Eu vi, deu na TV, e quase engoli,
Mas não, não vai dar
Que esse charuto tem um lugar mais justo pra entrar
O presidente dos Estados Unidos
Salvou a Terra do choque de um cometa
E eliminou os terroristas malvados
Que ameaçavam dominar o planeta
O presidente não poupou esforços
Arremessando aviões e foguetes
E embora errando uns tantos alvos
Mereceu dos seus os seus aplausos
Eu vi, deu na TV, veja você
Mas é de se perguntar
Onde é que Watergate foi parar?
Eu vi, deu na TV, e quase acreditei
Ahá, hã, hã
Mas quem é que se deu mal no Vietnã?
O presidente dos Estados Unidos
Protege o mundo livre do mundo preso
E prende todo mundo que for preciso
Pra não deixar o presidente indefeso
O presidente é belo e corajoso
E religioso ao falar à nação
Sobre os boatos sem sentido
Do assassinato de um inimigo
O presidente é quase sempre honesto
E nascido na Carolina dos fundos
Onde se fuma e não se traga
E não se sabe o que é que estraga o mundo
Eu vi, deu na TV, veja você
Mas é de se perguntar
Onde é que Watergate foi parar?
Eu vi, deu na TV, e quase engoli,
Mas não, não vai dar
Que esse charuto tem um lugar mais justo pra entrar
A legalidade da operação para matar Bin Laden
Europeus questionam legalidade da operação para matar Bin Laden
BERLIM (Reuters) - Enquanto muitos líderes mundiais aplaudiam a operação norte-americana que resultou na morte de Osama bin Laden, alguns europeus questionaram os Estados Unidos por assumir o papel de polícia, juiz e executor.
"Foi claramente uma violação do direito internacional", disse o ex-chanceler (primeiro-ministro) alemão-ocidental Helmut Schmidt a uma TV alemã. "A operação poderia também ter consequências incalculáveis no mundo árabe à luz de todas as turbulências."
Ehrhart Koerting, ministro do Interior da cidade-Estado de Berlim, disse: "Como advogado, eu preferia ver (Bin Laden) sendo levado a julgamento no Tribunal Penal Internacional."
O jurista holandês Gert-Jan Knoops, especializado em direito internacional, declarou que o líder da Al Qaeda deveria ter sido preso e extraditado para os Estados Unidos. Ele traçou um paralelo com a situação do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, que foi levado a julgamento no tribunal de crimes de guerra de Haia após ser preso em 2001.
"Os norte-americanos se dizem em guerra contra o terrorismo, e que podem eliminar seus adversários no campo de batalha", disse Knoops. "Mas, num sentido estritamente formal, este argumento não se sustenta."
Reed Brody, consultor da entidade Human Rights Watch, de Nova York, disse que é cedo para dizer se a operação dos EUA foi legal, porque poucos detalhes foram divulgados.
"Gostaríamos de saber quais foram as ordens, quais foram as regras de abordagem. Queremos saber exatamente o que aconteceu (...) e em que os EUA alegam que Bin Laden estava realmente envolvido", afirmou.
"Será que o mundo é um lugar melhor por Bin Laden não estar aí? Pode-se obviamente responder a essa pergunta. Mas será que isso significa que você tem o direito de violar os protocolos de direitos humanos ou o direito internacional para fazer isso? Aí, não."
A alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, pediu aos EUA que forneçam à ONU detalhes completos sobre a morte de Bin Laden. "As Nações Unidas têm consistentemente enfatizado que todos os atos de contraterrorismo precisam respeitar o direito internacional", afirmou ela.
DESCONFORTO
Em Bruxelas, a comissária (ministra) europeia de Assuntos Domésticos, Cecilia Malmstrom, escreveu em um blog que "seria preferível ver Osama bin Laden diante de um tribunal".
Na Itália, o ex-premiê Massimo d'Alema, da oposição de centro-esquerda, declarou: "Não se celebra a morte de um homem. Talvez se Bin Laden tivesse sido capturado e levado a julgamento, teria sido uma vitória mais significativa."
Vários editoriais na imprensa ecoaram essa opinião. "Nós, europeus, preferíamos que Bin Laden fosse capturado e julgado, porque execuções são contrárias à nossa cultura. Mas a América - onde a pena de morte está em vigor - precisava atingir o homem que a atingiu tão duramente", disse o jornal esquerdista italiano La Repubblica.
O mesmo desconforto foi manifestado pelo ministro alemão de Relações Exteriores, Guido Westerwelle, que evitou usar a palavra "assassinato" ao declarar que estava feliz por Bin Laden ter "sido contido".
O secretário de Justiça dos EUA, Eric Holder, afirmou que as ações tomadas foram "legais, legítimas e apropriadas sob todos os aspectos", e vários juristas norte-americanos partilharam dessa posição.
Para Kenneeth Anderson, especialista em segurança nacional e direito do conservador Instituto Hoover, os EUA estão resguardados pelo fato de terem se declarado em conflito armado contra a Al Qaeda. "É legal para os Estados Unidos irem atrás de Bin Laden, nem que seja por ele ter lançado um ataque contra os EUA", disse Anderson, referindo-se aos atentados de 11 de setembro de 2001, cometidos pela Al Qaeda.
E, embora o Paquistão possa se queixar à ONU sobre uma ação realizada em seu território, é improvável que isso aconteça, segundo juristas norte-americanos.
(Reportagem adicional de Aaron Gray-Block em Amsterdã, Silvia Aloisi em Roma, Justyna Pawlak em Bruxelas e Eric Kelsey em Berlim)
Washington e Bin Laden
A história proibida da aliança entre Washington e o homem que ordenaria os ataques de 11 de setembro
Por Antonio Martins* | Imagem: Dragão, de M.C. Escher (detalhe)
A ordem formal para detonar o último esconderijo de Bin Laden foi dada por Barack Obama na manhã de sexta-feira, informou nesta manhã (2/5) o New York Times. Antes de rumar para o Alabama, onde acompanhou o socorro às vítimas de tornados violentos, o presidente determinou que forças especiais da central de inteligência dos EUA – a CIA desencadeassem o ataque. Instalado numa casa em Abbottabad, a apenas 50 quilômetros da capital do Paquistão, o líder da Al Qaeda teria resistido ao comando que o localizou. Segundo fontes norte-americanas, foi ferido na cabeça e em seguida, estranhamente, sepultado no mar. As circunstâncias exatas da operação ainda são desconhecidas.
Ironicamente, a CIA, encarregada de conduzir a operação que liquidou Bin Laden, está estreitamente associada ao surgimento do terrorista. Pouco se falará a respeito, nos próximos dias, mas tanto o homem de barbas longas e olhar calmo quanto a própria Al Qaeda foram conscientemente criados pelos Estados Unidos, no contexto da disputa contra a União Soviética, na “guerra fria”.
Os fatos estão disponíveis em algumas publicações alternativas norte-americanas, entre as quais destacam-se, o site Z-Net, a revista The Nation. Para esta escreveRobert Fisk, um repórter veterano e especializado em questões de Oriente Médio. Ele fala com a autoridade de quem se encontrou várias vezes, na condição de jornalista, com Bin Laden.
A última delas, conta, foi em 1997, nas montanhas do Afeganistão. Avistou o saudita na pose e nos trajes em que aparece costumeiramente na imprensa ocidental. Roupas afegãs tradicionais, refestelado em sua caverna, ar tranqüilo. Bin Laden aparentou um conhecimento muito superficial sobre a situação do mundo. Atirou-se sobre o jornal que Fisk tinha consigo. Deu a entender que a leitura lhe trazia muitas novidades, mas abandonou a atividade depois de meia hora. Preferiu falar sobre sua crença na proteção que lhe seria assegurada por Alá. Relatou os muitos episódios em que, ao enfrentar os ocupantes soviéticos do Afeganistão, salvou-se porque os foguetes que foram atirados sobre seus esconderijos deixaram de explodir. Afirmou não temer a morte, porque “como muçulmano, acredito que, quando morremos em combate, vamos para o Paraíso”. Mas não deixou, nem por um instante, o abrigo em que se encontrava. Fisk registra: era “uma relíquia dos dias em que combateu os soviéticos: um nicho de oito metros de altura escavado na rocha, à prova até mesmo de ataques de mísseis”.
Em nome da vitória sobre os soviéticos, acordo com os extremistas
Num outro texto — um artigo analítico assinado por Dilip Hiro, intitulado “O custo da ‘vitória’ afegã” The Nation revive as circunstâncias da aliança que acabaria envolvendo Washington e Bin Laden. O cenário é o Afeganistão; a época, a última fase da Guerra Fria. Em 1979, um golpe militar havia levado ao poder grupos ligados à União Soviética (URSS). Anticomunista fervoroso, Zbigniew Brzezinsky, assessor de Segurança Nacional do então presidente Jimmy Carter, vislumbra uma oportunidade de passar da defesa ao ataque. Não quer apenas reinstalar em Kabul um governo aliado ao Ocidente. Pretende disseminar, entre as populações muçulmanas da URSS, um tipo de pensamento religioso capaz de incitá-las ao máximo contra o governo de Moscou. The Nation frisa: havia alternativas, mesmo para os que, como o assessor de Segurança Nacional, estavam empenhados em promover a Guerra Fria. Exitiam no Afeganistão “diversos grupos seculares e nacionalistas opostos aos soviéticos”. Ao invés de apoiá-los, no entanto, a Casa Branca parte para o que julga ser uma cartada genial. Impulsiona as organizações afegãs mais fundamentalistas, reunidas, desde 1983, na Aliança Islâmica do Mujahedin Afegão (IAAM, em inglês).
Os instrutores valorizam ao máximo a guerra santa (Jihad) contra Moscou. A Casa Branca quer matar dois coelhos com uma só paulada. A suposta defesa do islamismo contra os ateus soviéticos serve para consolidar, no Paquistão, o poder de Zia ul-Haq, fiel aliado do Ocidente. O terceiro elo da coalizão é a Arábia Saudita, onde outro governo pró-americano, embora muito rico, necessita de reforço ideológico. Ao longo de alguns anos, os príncipes sauditas serão convidados a “doar” 20 bilhões de dólares para a cruzada da IAAM. Através da CIA, os Estados Unidos comparecerão com mais US$ 20 bi. Os rios de dinheiro verde servirão para recrutar e formar guerrilheiros fanatizados e armá-los até os dentes. Fazem parte de seu arsenal mísseis anti-helicópteros que serão decisivos para enfrentar e vencer tanto o governo pró-URSS quanto as próprias tropas soviéticas, que, em favor de seu aliado, ocuparam o país em 1979.
Um milionário saudita adere a estranhos “lutadores da liberdade”
É esse clima de extremismo e intolerância suscitado por Washington que atrairá o saudita Osama bin Laden ao Afeganistão. No início dos anos 80, quando chegou ao país, ele era apenas o jovem herdeiro milionário de uma família de empresários do ramo da construção. Estava fascinado pela jihad patrocinada pelos EUA. Foi o primeiro saudita a aderir a ela, e levou consigo, ao longo do tempo, pelo menos 4 mil compatriotas. Tornou-se líder dos “voluntários” no Afeganistão. Aproximou-se dos dirigentes do IAAM, que, graças ao apoio recebido da Casa Branca, constituiriam anos depois o governo Taliban. Construiu abrigos reforçados para depósito de armas, participou de ações guerrilheiras. Jamais lhe faltou apoio moral do Ocidente. O repórter Robert Fisk relata: “Estava no Afeganistão em 1980, quando Laden chegou. Ainda tenho minhas notas de reportagem daqueles dias. Elas recordam que os guerilheiros mujahedin queimavam escolas e cortavam as gargantas das professoras, porque o governo tinha decidido formar classes mistas, com meninos e meninas. O Times de Londres os chamava de ‘lutadores da liberdade’. Mais tarde, quando os mujahedins derrubaram (com um míssil inglês Blowpipe) um avião civil afegão com tripulação e 49 passageiros, o mesmo jornal os chamou de ‘rebeldes’. Estranhamente, a palavra ‘terroristas’ nunca foi usada para qualificá-los”
A partir de 1989, com o colapso do governo pró-soviético no Afeganistão e da própria União Soviética, os “voluntários” começaram a voltar a seus países. Ao retornarem ao mundo árabe, explica Dilip Hiro, formaram um grupo à parte, que se tornou conhecido como os “afegãos”. Tinham marcas muito características. A intolerância e o desprezo pela vida humana eram os mesmos cultivados sob comando e por determinação consciente dos Estados Unidos. Haviam adquirido, nos anos da luta anti-soviética, alta capacitação em práticas terroristas. Eram, contudo, menos inexperientes do ponto de vista político. Passaram a observar que países como a Arábia Saudita e o Egito eram governados por elites tão submissas aos Estados Unidos quanto era subordinado aos soviéticos o governo afegão contra o qual lutaram.
A cobra volta-se contra o ninho em que se criou
A guerra do Golfo os voltou de vez contra Washington. Encerrada a campanha contra o Iraque, em 1991, a Casa Branca descumpriu a promessa de retirar da Arábia Saudita — país onde estão as cidades sagradas de Meca e Medina — as bases militares e os milhares de soldados mobilizados contra Saddan Hussein. Bin Laden e seus liderados lembraram que isso contraria a Sharia , lei islâmica. Em 1993, o rei Fahd, talvez o mais fiel aliado dos EUA no mundo árabe, ainda cortejou o milionário, chegando a ponto de nomeá-lo para um Conselho Consultivo real. Em 94, depois de novos desentendimentos, Bin Laden foi expulso da Arábia Saudita. Em 96, declarou uma jihad contra a presença norte-americana no país. Afirmou então que “expulsar o ocupante americano é o mais importante dever dos muçulmanos, depois do dever da crença em Deus”. Dois anos depois, uma declaração conjunta assinada por uma frente de organizações fundamentalistas formada por Bin Laden exortava: “A determinação de matar os americanos e seus aliados — civis e militares — é um dever individual para todo muçulmano que possa fazê-lo em qualquer país onde isso for possível, com objetivo de libertar de suas garras a Mesquita de Al-Aqsa [em Jerusalém] e a Mesquita Sagrada [Meca]. Isso está em consonância com as palavras de Deus todo poderoso”.
Em seu relato para The Nation, Robert Fisk lembra que Bin Laden não é o primeiro aliado com quem a Casa Branca se relaciona intimamente durante certo tempo, para mais tarde, quando já não necessita de seus serviços, acusá-lo — com ou sem motivos — de terrorista. Ele cita os casos de Saddan Hussein, visto como herói quando atacou com armas químicas o Irã; ou de Iasser Arafat, considerado “super-terrorista” quando liderava a luta pela libertação da Palestina e mais tarde “respeitável homem de Estado”, ao firmar com Israel acordos de paz jamais cumpridos.
Bastaria olhar para a América Latina para encontrar outros múltiplos exemplos de relações privilegiadas entre Washington e terroristas, praticantes de golpes de Estado, governantes tirânicos, corruptos, torturadores. Num outro sentido, menos direto, porém mais ameaçador, a aliança com o terror está, aliás, sendo reeditada neste exato momento. Bin Laden usa a opressão dos EUA e de Israel contra o mundo árabe como pretexto para justificar sua intolerância e atos criminosos. Todas as declarações dos governantes norte-americanos feitas após os atentados de 11 de setembro indicam que a Casa Branca pretendem apoiar-se no risco real do terror para desencadear uma ofensiva militar e política que, se não for barrada, transformará o planeta num local muito mais violento, antidemocrático e desigual. Talvez por isso, as sociedades tenham o direito de dizer que, contra a barbárie dos extremistas e do Império, a única saída é a construção de um mundo novo.
Moreno filho do Sertão
A Embrapa criou uma fibra que já nasce colorida, não é transgênica e que hoje faz sucesso nos EUA e na Europa. Política e ecologicamente correto, o algodão que já nasce colorido chegou para ficar. Acaba de ganhar reportagem na revista americana “Newsweek” e de virar mote de poeta popular, como no folheto de cordel “O milagre do algodão colorido”. Agora começa a ingressar no mercado dos Estados Unidos e da Comunidade Européia, por meio de bolsas, roupas básicas, sandálias, artigos de cama e mesa e cem outros itens que têm feito a festa de exigentes consumidores do primeiro mundo. É o Natural Fashion, made in Paraíba. Mais precisamente em Campina Grande, a 135 quilômetros de João Pessoa. A grife já desperta a curiosidade do Centro de Moda de Milão, foi a principal atração deste ano do mais importante evento de moda no estado e se prepara para chegar em janeiro à São Paulo Fashion Week. E o fará em grande estilo, levando modelitos assinados pelo mineiro Ronaldo Fraga. Isso depois de marcar presença na Biofach, uma das maiores feiras de produtos naturais do mundo, que acontece na Alemanha. Antes de chegarem às prateleiras do exterior, para onde escoam quase cem por cento de sua produção, os artigos Natural Fashion percorrem um caminho de deixar babando ativistas verdes. Para começar, o algodão marrom, pastel, vermelho ou verde já nasce colorido. Ou seja, dispensa corantes. Também é para lá de orgânico, totalmente isento de agrotóxicos. Com isso, evita contaminação de solo e lençol freático e se candidata a um selo verde, que é hoje o melhor passaporte para o mundo. Boquiabertos podem ficar, também, todos aqueles que pregam hoje o exaustivo mas sempre bem-vindo discurso da inclusão social: o algodão colorido só brota mesmo no semi-árido, naquele sertãozão da caatinga de chão estorricado que parece não dar nada a cada seca a não ser a fome. Com isso, agricultores de assentamentos de reforma agrária garantem o sustento de suas famílias. Ganham 30 por cento a mais do que se produzissem algodão comum porque tecidos artificialmente tingidos têm produção mais cara, com percentual equivalente àquele. Sem o custo adicional, o que sobra vai para a mão do trabalhador. Toda a cadeia produtiva — do campo ao mercado — gera empregos diretos para cerca de quatro mil pessoas, entre lavradores, costureiras e artesãos. Quase todas as peças têm presença de elementos artesanais — crochê, labirinto, renascença, adereços de madeira feitos a mão, o que irriga a economia doméstica de pelo menos 250 artesãos, alguns com idade superior a 60 anos e portanto fora do mercado de trabalho. Já os resíduos sólidos voltam para outros artesãos, que fazem miniaturas que são muito solicitadas por donas de casas e decoradores, desde caixinha com máquina de costura a moldura com peças minúsculas. Desenvolvido pelo Centro Nacional de Pesquisa do Algodão, órgão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o novo algodão, atenção... não é transgênico. Mas sim geneticamente aperfeiçoado, resultante de cruzamentos de algodão primitivo marrom com o seridó, que tem a mais longa e resistente fibra de algodão do mundo. Com o incentivo do governo da Paraíba, o algodão colorido já se espalha por três mil e 300 hectares do semi-árido e a pretensão é chegar a seis mil hectares em 2004. — A área onde ele brota é semidesértica, não dá absolutamente nada a não ser o algodão colorido — exalta Maysa Gadelha, presidente do Natural Fashion, um consórcio que reúne dez pequenas empresas, criado para viabilizar a exportação desses produtos. Um nome em inglês, para gringo entender mesmo, ainda mais diante do apelo natural, quase universal. Em 2004, a Natural Fashion abrirá sua primeira loja em sistema de franquia na Europa, começando por Portugal. Para se transformar em roupas e acessórios o algodão naturalmente colorido percorre um grande caminho. As plumas vão para a indústria Cotemina (do vice-presidente José Alencar), em Campina Grande mesmo, onde viram fios. Daí uma parte segue para a Matesa, em João Pessoa, onde se transforma em malha. Os tecidos planos — tricoline, brim, sarja — são fabricados pela Ribeiro Chaves, em Sergipe. Já redes, jogos americanos, mantas, colchas são confeccionados artesanalmente em tear manual, na Paraíba.
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