A Embrapa criou uma fibra que já nasce colorida, não é transgênica e que hoje faz sucesso nos EUA e na Europa. Política e ecologicamente correto, o algodão que já nasce colorido chegou para ficar. Acaba de ganhar reportagem na revista americana “Newsweek” e de virar mote de poeta popular, como no folheto de cordel “O milagre do algodão colorido”. Agora começa a ingressar no mercado dos Estados Unidos e da Comunidade Européia, por meio de bolsas, roupas básicas, sandálias, artigos de cama e mesa e cem outros itens que têm feito a festa de exigentes consumidores do primeiro mundo. É o Natural Fashion, made in Paraíba. Mais precisamente em Campina Grande, a 135 quilômetros de João Pessoa. A grife já desperta a curiosidade do Centro de Moda de Milão, foi a principal atração deste ano do mais importante evento de moda no estado e se prepara para chegar em janeiro à São Paulo Fashion Week. E o fará em grande estilo, levando modelitos assinados pelo mineiro Ronaldo Fraga. Isso depois de marcar presença na Biofach, uma das maiores feiras de produtos naturais do mundo, que acontece na Alemanha. Antes de chegarem às prateleiras do exterior, para onde escoam quase cem por cento de sua produção, os artigos Natural Fashion percorrem um caminho de deixar babando ativistas verdes. Para começar, o algodão marrom, pastel, vermelho ou verde já nasce colorido. Ou seja, dispensa corantes. Também é para lá de orgânico, totalmente isento de agrotóxicos. Com isso, evita contaminação de solo e lençol freático e se candidata a um selo verde, que é hoje o melhor passaporte para o mundo. Boquiabertos podem ficar, também, todos aqueles que pregam hoje o exaustivo mas sempre bem-vindo discurso da inclusão social: o algodão colorido só brota mesmo no semi-árido, naquele sertãozão da caatinga de chão estorricado que parece não dar nada a cada seca a não ser a fome. Com isso, agricultores de assentamentos de reforma agrária garantem o sustento de suas famílias. Ganham 30 por cento a mais do que se produzissem algodão comum porque tecidos artificialmente tingidos têm produção mais cara, com percentual equivalente àquele. Sem o custo adicional, o que sobra vai para a mão do trabalhador. Toda a cadeia produtiva — do campo ao mercado — gera empregos diretos para cerca de quatro mil pessoas, entre lavradores, costureiras e artesãos. Quase todas as peças têm presença de elementos artesanais — crochê, labirinto, renascença, adereços de madeira feitos a mão, o que irriga a economia doméstica de pelo menos 250 artesãos, alguns com idade superior a 60 anos e portanto fora do mercado de trabalho. Já os resíduos sólidos voltam para outros artesãos, que fazem miniaturas que são muito solicitadas por donas de casas e decoradores, desde caixinha com máquina de costura a moldura com peças minúsculas. Desenvolvido pelo Centro Nacional de Pesquisa do Algodão, órgão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o novo algodão, atenção... não é transgênico. Mas sim geneticamente aperfeiçoado, resultante de cruzamentos de algodão primitivo marrom com o seridó, que tem a mais longa e resistente fibra de algodão do mundo. Com o incentivo do governo da Paraíba, o algodão colorido já se espalha por três mil e 300 hectares do semi-árido e a pretensão é chegar a seis mil hectares em 2004. — A área onde ele brota é semidesértica, não dá absolutamente nada a não ser o algodão colorido — exalta Maysa Gadelha, presidente do Natural Fashion, um consórcio que reúne dez pequenas empresas, criado para viabilizar a exportação desses produtos. Um nome em inglês, para gringo entender mesmo, ainda mais diante do apelo natural, quase universal. Em 2004, a Natural Fashion abrirá sua primeira loja em sistema de franquia na Europa, começando por Portugal. Para se transformar em roupas e acessórios o algodão naturalmente colorido percorre um grande caminho. As plumas vão para a indústria Cotemina (do vice-presidente José Alencar), em Campina Grande mesmo, onde viram fios. Daí uma parte segue para a Matesa, em João Pessoa, onde se transforma em malha. Os tecidos planos — tricoline, brim, sarja — são fabricados pela Ribeiro Chaves, em Sergipe. Já redes, jogos americanos, mantas, colchas são confeccionados artesanalmente em tear manual, na Paraíba.
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